O que é o Extrativismo de Atenção?
A Economia Extrativista de Atenção utiliza tecnologias avançadas e conhecimentos neurocientificos para capturar a atenção dos usuários de forma intensiva, visando extrair o máximo deste recurso. Essa abordagem vai além do simples monetizar da atenção, ela busca criar uma dependência - com uma assimetria de poderes, ela explora vulnerabilidades psicológicas humanas para interromper, fisgar e reter a atenção dos usuários em plataformas digitais de maneira contínua, modificando nossos hábitos.
Algumas Técnicas do Extrativismo
É importante poder identificar as técnicas do extrativismo de atenção quando surgem, o modelo se baseia em 3 etapas: fisgar nossa curiosidade, reter nossa atenção e modificar nossos hábitos. "Quando o serviço é grátis, o produto é você" - ou seja, nós estamos pagando com nossos dados e atenção, mas também há plataformas no modelo freemium e até pagas que utilizam técnicas do extrativismo elencadas abaixo - consegue reconhecer algumas?
FISGAR
Diferente das mídias que vieram antes, como jornal, rádio ou TV - as novas mídias são portáteis e tem o poder de nos interromper. Plataformas do extrativismo se utilizam dessa possibilidade para nos fisgar para dentro da plataforma.
Notificações e e-mails para fisgar | Plataformas nos interrompem com mensagens para nos alertar sobre novos conteúdos, oportunidades ou interações com o único propósito de nos puxar à plataforma. Muitas vezes, recebemos o alerta de que houve uma interação - “fulano te enviou uma mensagem”- mas não exibe a mensagem em si ou não te deixa responder no próprio email - ou seja, é uma isca para nos puxar de volta para a imersão.
Recompensas variáveis | A aleatoriedade de recompensa eleva o comportamento compulsivo, como constatou o psicólogo B.F. Skinner. Mensagens com oportunidades imperdíveis, likes, comentários, pontos bônus, são usadas como nossas recompensas e entregues aleatoriamente durante as interações nas plataformas. Entramos nas redes sociais, games e plataformas sem saber o que vamos encontrar: dezenas de likes e um novo seguidor, ou simplesmente nada?
Conteúdo ou oportunidades com Tempo Limitado | Metas diárias, pontos bônus, conteúdo com prazo de validade ou "stories" que criam o receio de estar perdendo algo e nos força a verificar a plataforma regularmente para evitar o sentimento de isolamento social (FOMO - Fear of Missing Out/Medo de estar por fora).
RETER
Uma vez dentro de seu universo, as plataformas se aproveitam de artifícios para ludibriar nosso senso crítico e noção de tempo, num esforço para nos manter lá pelo máximo de tempo o possível.
Recomendações de conteúdo personalizadas | Muito antes do ChatGPT vir a público, as redes sociais já usam inteligência artificial para estudar nosso comportamento, nossas interações, aquilo que assistimos mais tempo (mesmo sem dar like) com o intuito de criar um perfil personalizado e sugerir conteúdo mais propenso a chamar nossa atenção e nos manter rolando a tela continuamente.
Scroll infinito e reprodução automática | Recursos que eliminam a necessidade de clicarmos ativamente para mais conteúdo. O próprio criador do recurso já alegou: “Percebemos que se não oferecermos tempo para que a sua mente e cérebro alcancem seus impulsos, não haverá estímulo de pausa, então elas continuam lá scrollando." É a técnica se aplica também com o autoplay de vídeos, o episódio seguinte que começa depois de uma curta contagem regressiva, stories que tocam em sequência, reels um abaixo do outro…
Cores, luzes e sons | São estrategicamente utilizados para aumentar a nossa impulsividade. Especialmente a cor vermelha é utilizada para instigar uma ação nossa, aquele sentimento de “Preciso clicar nessa notificação vermelhinha pulsante no canto superior da tela para limpar ela”. Vermelho é a cor de placas de pare, saída de emergência, luzes de ambulância, é a cor do sangue - se aparece em alguma plataforma, saiba, não é por acaso.
Incontáveis Testes A/B | Empresas realizam incontáveis testes A/B para experimentar com diferentes recursos, layouts e algoritmos para ver o que captura a nossa atenção de maneira mais eficaz. A cor de cada botão, o barulhinho que faz - qual é o design perfeito para nos segurar mais tempo na tela?
modificar
Uma forma de maximizar nosso tempo nas plataformas é sentirmos que elas são intermediárias necessárias de nossos relacionamentos sociais ou amor próprio, além de nos fazer sentir um senso de alerta constante ao estar desconectado ou inacessível - para que entrar nelas vire parte entranhada de nossos hábitos.
Manipulação de dopamina | O neurotransmissor é um dos principais na determinação do nosso comportamento e por isso é manipulado para nos manter nas plataformas por meio de curtidas, reações, sorrisos, pontos, sentimentos de validação social, entre outros...
Validação e Comparação social | Número de seguidores, likes, comentários são simbolizados como moedas de validação social, moedas de amor, carinho e afeto e quantificados. Isso facilita a comparação e competição entre nós, incentivando o que impulsiona engajamento. Quantos stories de “feliz aniversário” você recebeu este ano?
Gamificação | Incorporar elementos de gamificação, como metas diárias, tempo limitado e outras ações que geram prêmios e distintivos - exploram motivações psicológicas dos usuários. Esses elementos desencadeiam quimicamente um senso de realização e nos incentivam a interagir mais com a plataforma.
Assimetria de Poderes | Estamos competindo pela nossa atenção, individualmente, contra um time de engenheiros, programadores, psicólogos, neurocientistas, designers, doutores, MBAs, PhDs... munidos milhares de dados sobre nós, conhecimento sobre nossas vulnerabilidades humanas e bilhões de dólares investidos em algoritmos que se otimizam em ritmo exponencial.
Consequência: Rebaixamento Humano
"Rebaixamento Humano" contempla uma série de consequências que sofremos em escala individual e global relacionadas à Economia Extrativista da Atenção - a cada dia, mais evidências surgem.
Exposição que está afetando as capacidades cognitivas, emocionais e físicas das novas gerações, tendo consequências permanentes a longo prazo.
Pela 1ª vez, filhos têm QI inferior ao dos pais. Diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, em que apresenta, com dados concretos e de forma conclusiva, como os dispositivos digitais estão afetando seriamente — e para o mal — o desenvolvimento neural de crianças e jovens.
Crianças em idade pré-escolar que utilizam telas por mais de uma hora por dia apresentam quedas significativas no desenvolvimento das regiões do cérebro ligadas à linguagem e alfabetização.
1 em cada 3 crianças já tiveram interação sexual online - desde mensagens inapropriadas a receber pedidos de nudes ou nudes não solicitadas de outras crianças ou adultos.
A quantidade de tempo gasto por adolescentes utilizando redes sociais está significativamente correlacionada com os níveis posteriores de consumo de álcool enquanto o tempo gasto em outras formas de mídia eletrônica (como TV ou videogames) tem um impacto comparativamente pequeno.
Mais de 90% da comida apresentada nos canais de influencers infantis mais populares do YouTube apresentam comida ou bebidas não saudáveis, patrocinadas por marcas.
Crianças que assistem a vídeos de influenciadores infantis segurando alimentos não saudáveis consomem significativamente mais calorias.
O nível de uso de mídias sociais é um preditor significativo dos níveis de depressão ao longo de quatro anos em adolescentes.
Há um aumento de 66% no risco de comportamento relacionados ao suicídio entre as adolescentes que passam mais de 5 horas por dia (em comparação com 1 hora por dia) nas redes sociais.
Para estas e mais evidências de rebaixamento humano, recomendamos que conheçam o trabalho do Center for Humane Technology